Estamos em um animado
debate no nosso grupo de estudos no WhatsApp sobre “a Verdade”.
Enquanto uns (entre os
quais eu) afirmam que não há uma verdade universal, outros dizem
que tal verdade existe. Entre estes, meu bom amigo Ricardo apresentou
alguns excelentes argumentos, que venho responder aqui.
A ideia de uma verdade
universal é atraente. Uma vez que uma coisa dessas fosse descoberta
eu não precisaria mais pensar em nada. Bastaria adequar-me a esta
verdade e pronto! Todos meus problemas estariam resolvidos!
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Aliás, por que vocês
acham que tantas e tantas pessoas seguem as religiões do Caminho da
Mão Direita, como o Cristianismo e o Islã, enquanto tão poucas
seguem as do Caminho da Mão Esquerda? A resposta é simples:
PREGUIÇA DE PENSAR POR SI MESMAS!
Uma vez que o sujeito
se defina como Cristão ou Muçulmano, tudo que ele tem de fazer para
decidir sobre tudo na vida é consultar um livro velho, a Bíblia ou
o Corão, ou então uma pessoa que se diga especialista nesses mesmos
livros velhos, um Padre, Pastor ou Aiatolá.
Nada mais de esforço
reflexivo ou filosófico! Nada mais de tentar se descobrir no
contexto do universo! Liberdade total para existir sem o esforço de
raciocinar! Que paraíso! Mas não para mim...
Eu prefiro a
incerteza, a dúvida. Prefiro procurar diariamente uma verdade para
aquele dia, ou para aquele instante, e ver essa verdade destruída
logo a seguir pelos argumentos de alguém ou pelos fatos da vida. Porque isso me obriga a começar tudo de novo e a evoluir a cada
segundo, que é o objetivo de minha vida.
O meu amigo
Ricardo lançou mão de um argumento na forma de uma analogia que era
mais ou menos assim: “Um sujeito derruba um vaso e o vaso quebra.
Quem derrubou fica constrangido. O dono do vaso fica irado. Quem tem
de varrer os cacos se chateia. Mas nenhum chimpanzé no mundo diria
que o vaso não quebrou.”
Ele quis
dizer com isso, creio eu, que apesar do mesmo evento causar
impressões diferentes de acordo com a perspectiva de cada um, o
evento em si mesmo é inegável.
Não posso
culpar o Ricardo por pensar assim. É a maneira linear como vemos
mesmo os eventos no tempo-espaço. No entanto, quem se aprofundar no
universo da Física vai começar a entender que desde Richard P.
Feynmann o mundo mudou.
Este
brilhante físico, ganhador do Nobel, mostrou que o evento que
percebemos com nossos sentidos não é o único, mas apenas o evento
com a maior probabilidade em uma vasta gama de possibilidades. Em
outras trilhas do tempo eventos diferentes podem ter ocorrido sem que
os percebêssemos. Assim, há uma trilha do tempo em que o vaso não
quebrou. Há outra em que ninguém sequer derrubou o vaso. E outra
ainda na qual o vaso nem mesmo estava ali. E, finalmente, outra linha
do tempo na qual o vaso nem sequer foi fabricado!
A nossa
mente parece ter sido ajustada para perceber apenas a trilha do tempo
mais provável. O que não impede que todas as outras possibilidades
existam simultaneamente. Talvez isto seja um ajuste evolucionista
para impedir que nossos ancestrais se perdessem em realidades
alternativas pouco prováveis enquanto o leão se aproximava nas
savanas africanas.
A própria
ideia de que várias realidades paralelas podem existir desafia o
conceito de VERDADE UNIVERSAL. Em que se fundamentaria essa verdade,
se o sujeito do lado por estar imerso em uma linha do tempo em que
ela nem sequer foi cogitada?
Não, o
mundo está mais para Matrix do que para o Novo Testamento. Nada é
tão é tão linear e ninguém é o Caminho, a Verdade e a Vida.
Agora mesmo,
enquanto está lendo este artigo, quem te garante que não está
dentro de uma bolha na Cidade das Máquinas,imerso em uma gosma,
sonhando com uma realidade virtual para produzir energia?
Ah, não
negue... você já cogitou nessa possibilidade. Talvez até tenha
feito o teste de passar a mão na nuca para ver se tem um cabo
inserido. Mas você não vai ver ou tocar o cabo a não ser que, como
eu, tenha escolhido a pílula vermelha.